Tuesday, May 27, 2008

A Capital.

Enquanto há quem prefira ler O Capital (não conheço), admito que prefiro A Capital do nosso Eça. Bom, talvez seja mesmo o meu livro preferido do Eça. Há qualquer coisa naquele Artur Corvelo sentimentalão e por vezes até um pouco ridículo, que carrega o peso do mundo nos seus ombros, que o torna simpático, próximo de nós. Julgo poder afirmar que é um personagem tipicamente português. As suas manias da grandeza, as boas intenções e ideais, rapidamente dissipados face a qualquer obstáculo, as suas paixões trágicas e melodramáticas. Há como em outras obras do Eça um elogio da ruralidade, estranho ou não, vindo de um escritor cosmopolita. Artur é o rapaz ambicioso, mas de bom coração, sonhador e idealista que da província julga poderr atingir os píncaros da capital com que sonha de dia e de noite. Ora, é completamente esmagado pelas forças da Capital: os canalhas do mundo literário e artístico, os amores de bordel, a alta sociedade de Lisboa, o ambiente revolucionário republicano. Até mesmo o vil metal, ou como diria a tia Sabina "o maldito dinheiro!" acaba por ser mais um dos factores da sua desgraça, ao atrair para si, toda a sorte de parasitas e amizades interesseiras. Afinal um enredo que podia ser hoje. Resta a Artur o cozido na casa das tias, o emprego na botica e os goivos junto à sepultura da tia Sabina.